domingo, 28 de junho de 2009

Dia 2 do começo de Linda O'Mahley

Adorei a frase do Divã, o filme: Se tive problemas na vida, nao foi por falta de felicidade!"

Eu sei é que ao longo dessas décadas já vivi tantas vidas e parece que estive parada no mesmo lugar. É verdade isso de vivermos muitas vidas em uma. Hoje estamos cercados por um grupo de pessoas, temos laços e vínculos com elas e são determinantes em nossa vida, às vezes, num piscar de olhos o cenário muda, nada mais resta daquilo e o que era o ar que respirávamos tornou-se poeira em nossa memória. Será que não dá mesmo pra fugir do clichê?

Lembro de uma série de TV onde o personagem principal era um simulador, que poderia ser quem quisesse? Olha que delírio! O fato é que podemos ser quem escolhermos, mas precisamos remover os grilhões! É tão difícil sair da zona de conforto. È tão complicado sair de dentro da prisão do lugar comum. O novo é tão sonhado e na hora de agarrar o prêmio dá vontade de desistir!

Eu confesso que fico mimando e acalentando alguns vícios da minha vida que sei que são um atraso, mas são íntimos e conhecidos velhos. É mais fácil lidar com coisas familiares! Isto é um desacato!

Talvez eu tenha imaginado que seria uma predestinada e que magicamente saberia ler os sinais, que os sinais me indicariam o caminho a seguir e assim eu cumpriria os ítens da receita e o produto estaria ali. Sem surpresas. Como fui lesa.

Tudo foi lento e indefinido e eu deixei a indefinição ser minha marca registrada. Sempre agi com a vida como se as opções não fossem minhas e sim do acaso. Tudo aconteceu e eu apenas embarquei em tempo.

Não fiz muita questão de marcar o território nem de parecer a opção correta, mas não aceito me enquadrar nos modelos de felicidade que estão à minha frente. Acho que resisti tanto a eles que caí num limbo e la ironicamente encontrei os supostamente enquadrados também. Sempre vai haver uma porta que estará fechada. E eu aqui no portal.
Talvez, na verdade, eu quisesse apenas um desses modelos prontos! Talvez eu tivesse medo de falhar, de descobrir que não posso!
Eu sempre imagino o que teria sido de mim se tivesse ficado com a outra opção!
Se eu tivesse me tornado a gorda que tenho tanto medo de ser? Se eu tivesse assumido a feia que tenho tanto medo de ser? Se eu tivesse me tornado a burra que tenho medo de ser.
Está vendo, tudo é definitivo. Estou sendo maniqueísta mesmo. Ou se é gorda( não se está gorda). Ou se é feia ( não está feia) . Ou é burra( não está sendo burra). O definitivo está sempre presente. Tudo parece pra sempre! Pra sempre!
Mas, voltando , se eu tivesse sido a burra , feia , gorda?Será que eu não estaria mais confortável.
Outro dia eu li um crônica da Lia Luft onde ela dizia o quanto é difícil ser "feliz", ironizando sobre o modelo ou rótulo do que todos acreditam ser a felicidade. Ser é difícil. Ser tantas coisas é impossível. Eu sei disso ! E daí? Isso muda alguma coisa dentro de mim e sobre mim? Talvez.
O difícil é ser a bruxa e ao mesmo tempo a gata borralheira!

Tenho muitas amigas e todas diferentes, cada uma em sintonia com uma parte de mim, mas todas acertaram em algum ponto. Há um momento em que o dial sintoniza claramente a que vieram, sem ruídos nem interferências. A música toca.

Eu me sinto como alguém que não está na festa porque quer,mas porque tem que estar. É onde deve estar, mas fico contando os minutos para acabar e poder ir embora e ficar aliviada porque consegui estar lá e fingir que estava ótimo por tempo suficiente e deu tudo certo . Poder contar depois como estava ótimo. Eu consegui enganar os bobos!

Eu detesto e sempre detestei festas convencionais, como formaturas, casamentos , aniversários de crianças, batizados e demais eventos familiares. O que há de errado comigo? Sem falar do Natal ! Só que às vezes me pego gostando pelas beirinhas! Dá pra entender onde foi que a placa começou a deslizar? Eu só sinto a crosta rachando!

Tenho medo, mas topei o desafio!
Eu não tenho medo de perder o juízo. Eu até gostaria de delirar um pouco, eu tenho medo é da minha própria polícia, diuturnamente vigilante e cujas punições são tão mais severas. Não admito minha humanidade e ponto.
Enquanto isso a criança fica lá, dentro de mim, chorando sozinha.
Eu continuo vendo e vivendo tudo enquadrado, remoto controle. Grande ilusão.
Eu sempre costumava pensar, quando me sentia cansada de tudo, que logo eu estaria velhinha e não teria mais que ficar me fazendo desafios ou provando pra torcida do Grêmio que eu posso isso ou aquilo ( entenda-se torcida do Grêmio o meu exército vigilante). É como aquela festa que já falei, logo ela acaba e só é preciso lembrar dos acontecimentos, pintar com uma cor que não seja muito distante da verdade e fazer de conta que foi como tinha que ser.
Eu sempre encurtava fantasiosamente o caminho entre o nascimento e a morte.
Décadas e décadas e a ânsia por viver ou descobrir o significado de tudo, como se tudo tivesse que ser um grande acontecimento , cheio de profundidade..., a ânsia só aumentou. Será que aos noventa vou viver a hecatombe!
Eu adoro temporais, adoro o barulho do vento. Adoro quando o tempo enlouquece!
Eu continuo vendo e revendo tudo enquadrado, remoto controle! Grande ilusão!

sábado, 27 de junho de 2009

O diário de Linda O' Mahley

Não sei em que dia eu esqueci que as roupas são feitas para vestir e não para nos diferenciar das outras pessoas, mas foi mais ou menos na mesma época em que me perdi de mim mesma.
Eu lembro que aos dezenove eu conseguia usar saia jeans rodada com babado rosa pink e meia de lycra verde bandeira, me achava o máximo. Talvez porque estivesse vertendo a expressão de mim mesma, sem medo de ser ridícula.
Eu me vejo agora, fixada em uma infinidade de coisas que não tem o menor sentido e fico me perguntando se estamos aqui para fazer sentido.... O que importa é que eu estou procurando o caminho de volta. Estou procurando a cura deste medo de viver e de repente , num golpe do destino, decobrir que é realmente bom e que deve ser assim!
Começei a me flagrar observando pessoas e achando que quase tudo nelas estava mais certo do que em mim. Começei a achar que errei feio em quase todas as escolhas, mas sei que não há tempo na vida para arrependimentos.
Acho que foi a Lya Luft em " Perdas e ganhos" que disse que a vida era mais ou menos isto, cada escolha impõe sempre um ônus, mais cedo ou mais tarde. Tudo tem desdobramentos , consequências que nem sempre são maravilhosas.
Às vezes vejo minhas amigas que tem uma vida dita " mais convencional" alienando para seus filhos o aprendizado de tarefas corriqueiras como instalar um vídeo ou manejar uma câmera ou mesmo usar certas ferramentas de um computador. Como se estas fossem tarefas proibidas às donas de casa, mesmo aquelas que não são nada donas de casa. Os maridos ficam encarregados de resolver os problemas domésticos. Assim dizendo , muletas que vão deixando um pouco que outros pensem sobre coisas que à mãe e esposa não cabe opinar. Vão ficando as mulheres um pouco aleijadas em sua formação. Fazem tricot e assistem novelas. Este capítulo eu acho sofrível.
Acho terrível que as mulheres fiquem do lado da casa que não gosta de discutir política , futebol ou fórmula 1. Me incomodam as revistas femininas que trazem opiniões altamente alienantes sobre o universo de uma mulher. ( É claro que há o capítulo das grandes maravilhas fúteis do mundo feminino, o que tem justificativas culturais muito óbvias)
Aquelas pessoas que me conhecem, claro, aparentemente, vão invariavelmente declarar que sou divertida, criativa, agitada, comunicativa, teatral, inteligente e até bonita. Tudo que oferece o quilate de normalidade e que nos dá credencial no grande ninho social. Mas acho que todos esses conceitos são como aquela chave promocional que deve ligar o carro premiado, parece igual , mas não liga, não dá ignição, não põe a coisa em movimento. Sabe, esqueci minha senha!
Tenho me visto cumprindo metas e fazendo planos de curto e longo prazo, que não cumpro, dos quais fujo. Finjo!
Sinto-me em queda livre às vezes e costumo dizer que todos somos muito próximos do tão temido chão! Como um personagem de Caio Fernando Abreu, tão humano, tão visceral, tão falível, tão fraco , tão frágil e porque não tão verdadeiro e tão apaixonante.
A paixão parece uma armadilha! No " Divã" da Marta Medeiros , há um momento no qual ela afirma que se apaixonou por uma situação, por um conjunto de coisas e não pela suposta pessoa amada. Achei uma definição muito interessante. Aquela pessoa é um gatilho que põe em movimento uma porção de coisas em nós, algumas desconhecidas, outras até mesmo assustadoras.
Aliás , o tempo faz coisas com a gente e com nossos pontos de vista que parece um romance de Gabriel Garcia Marquez. É surreal.
Estou dizendo tudo isso, porque apesar de estar na torre de um corpo de 1. 68 de altura e mais ou menos 60quilos, estou sentido as faíscas de quem está raspando o solo, afinal , dizem que pra baixo todo santo ajuda, mas também estou tangendo as nuvens porque não há nada mais apocalíptico do que a verdade.
Dois extremos muito perigosos! Perigosos? Veja só!
São tantas de mim que aparecem e acho que são todas falsas e fica a pergunta : e agora? Como devo me sentir?
Pode ser que todas sejam eu, provavelmente sejam! Meus dedos estão congelando!
Como um ser mediano age em tais circunstâncias? Mas eu não sou um ser mediano! Eu nem sei o que seria , na verdade , um ser mediano. Tenho medo de seres medianos.
Eu conheço seres pequenos e seres incríveis e seres patéticos e zilhões de pessoas , mas seres medianos eu não conheço nenhum e portanto , não sei como devo me sentir. Só sei que não sinto! Isso me assusta! É como se um belo dia eu tivesse descoberto que o gosto de algo mudou ou que não consigo mais o choro fácil e que olho com indiferença para certas circunstâncias.
Será que estou represando?
Sinto-me como dizia o Renato Russo, inadequada para vida, inapropriada. E como será que é ser apropriado? Ser adequado!
Eu que sempre me achei tão diferente de todos diria que tenho encontrado minha radiografia nos corpos de tantas estranhas criaturas. Talvez porque somos todos empurrados para o mesmo abismo, alguns resistem e vão criando calos e fortalecendo músculos, ganhando imunidade , criando anticorpos , outros simplesmente se deixam levar e se fundem ao movimento do conjunto.Será que eu sou uma impostora?A vida é puro charlatanismo?
Talvez eu só queira mesmo me sentir parte de alguma coisa que tenha rumo! Tipo ter uma carteira de habilitação que me desse passe livre nos outros grupos, sem que eu precisasse estar sempre me justificando ! Me justificando comigo, com o mundo ficcional a minha volta, com o que acho que as pessoas são ou pensam, com os matizes que coloco nelas.
Cheguei à conclusão de que quando me preocupo com o que os outros vão pensar, estou realmente preocupada com o que o meu superego vai pensar, com o que a feitora de todas as escravas que residem neste endereço vai pensar e em que castigo vai me impor por mau comportamento!!
Por outro lado , talvez seja justamente o inverso porque sobram rótulos e prateleiras para nos enquadrarmos . Se saímos de um , caímos em outro. Será que estamos em busca de nosso próprio pecado original? Não queremos pertencer às fileiras de clichês e queremos descobrir que não plagiamos ninguém!Naõ copiei o script e nem decorei as frases certas....